Não concordo inteiramente com essa declaração de M John Harrison (excelente autor de FC e fantasia e uma das influências de gente como China Miéville), mas ela é no mínimo divertida e necessária:
“Cada momento de uma história de ficção científica deve representar o triunfo da escrita sobre a criação de mundos.
Criar mundos é idiota. O worldbuilding literaliza a vontade de inventar. O worldbuilding dá uma permissão desnecessária para o ato de escrever (até para o ato de ler). O worldbuilding tira do leitor a capacidade de realizar sua parte do trato, porque prega que a criação deve lidar com todos os aspectos para que funcione.
Acima de tudo, o worldbuilding não é tecnicamente necessário. É o grande epítome do nerdismo. É a tentativa de exaustivamente mensurar um lugar que não existe. Um bom escritor nunca deveria fazer isso, nem mesmo com um lugar que exista. Não é algo possível e se fosse os resultados não seriam legíveis: não constituiriam um livro, mas a maior biblioteca já construída, um lugar vazio de dedicação e estudos de toda uma vida. Isso nos dá uma pista do perfil psicológico do construtor de mundos e da vítima do construtor de mundos e nos dá muito medo.”
Óbvia alfinetada em Tolkien, claro, que discordaria disso tudo, assim como dezenas de outros fantasistas e game designers como Will Wright. E talvez Borges. Ou Borges veria no worldbuilding detalhista semelhanças com os mapas em escala real de seu Colégio de Cartógrafos do Império?
(o trecho de M John Harrison foi extraído deste post antigo de Warren Ellis)